Viktor Hovland, 24 anos, com 5 vitórias desde que passou a profissional em 2019, é um dos jogadores que passou a ser referência no top mundial do golfe. A mais visível foi no Slync.io Dubai Desert Classic, a 30 de Janeiro. Tendo partido para a última volta com seis tacadas de diferença para o líder, conseguiu uma volta de seis abaixo do par que o levou ao play-off e à vitória. Quando lhe perguntam como é que fez para recuperar de uma desvantagem de seis pancadas para vencer no Dubai, ele apenas referiu que tudo tinha de se conjugar para que ele conseguisse esse resultado. Ou seja, ele tinha que jogar muito bem e os outros falharem. E as coisas nesse dia correram-lhe de feição. Foi um esforço que lhe valeu 1.200 milhões de euros.
Começou a jogar apenas aos 11 anos, quando o seu pai lhe trouxe um set de tacos dos Estados Unidos, país onde trabalhava. Vivendo em Oslo, grande parte do tempo que dedicava a treinar fazia-o num driving range coberto, existente num antigo hangar aeronáutico. No Verão, aproveitando as 24 horas de luz que se fazem sentir no norte da Noruega, ia para o Drobak Golf Club, junto ao círculo polar ártico e ficava aí horas, dia e noite (se assim se pode dizer), a treinar.
Viktor viu os seus companheiros dos jogos olímpicos da juventude, em 2014, tornarem-se profissionais logo a seguir enquanto ele decidiu que ainda tinha de continuar na universidade. “Vi-os ganhar títulos no European Tour, mas eu sabia que ainda não estava preparado para ser profissional.” Nesse ano, ainda com 16 anos, ele tinha ganho o Internacional Amador Norueguês.
O seu empenho no golfe foi tal que no final do liceu ganhou uma bolsa de estudo desportiva na Oklahoma State University. Nessa altura ele e sua mãe, Galina Hovland, mudaram-se para junto do pai que trabalhava nos Estados Unidos, podendo assim estar a família de novo reunida.
Como amador chegou a número um mundial em 2018, em que ganhou uma série de torneios internacionais, entre eles o US Amateur, tendo sido também o único jogador amador a conseguir fazer os scores mais baixo no Masters e no US Open. A partir daqui estava pronto para o Tour.
Os seus amigos próximos fazem notar que ele possui uma visão e concentração únicas. Olha para o jogo como se visse a bola pelo ponto de mira de um túnel. O seu caddie refere que se durante o treino caísse uma bomba perto de Viktor, ele nem iria notar.
Um dos seus antigos treinadores noruegueses dizia que era o único jovem que conhecia que treinava mesmo no dia de anos. E ao sair do avião em Oslo, quando chegava de um torneio internacional, ia treinar primeiro antes de ir para casa.
O espírito norueguês de vencer as adversidades está bem patente na sua forma de ser. Viktor aprendeu inglês a ver filmes. E o seu swing consolidou-o vendo imensas vídeos na internet sobre técnicas de golfe. Aqui também a forma norueguesa de estar na vida tem o seu dedo, uma vez que naquele país o consumo de conteúdos online é dos mais altos do mundo.
Criado num país nórdico, antes de se apaixonar pelo golfe, chegou a praticar futebol e taekondo. Os seus gostos musicais alinham pelos gostos maioritários dos jovens nórdicos: heavy metal. Os Metallica e Sister of Down são as suas bandas preferidas.
No tour Viktor não traça objetivos específicos para cada época. Apenas sabe que conseguiu chegar ali e que para ali se manter tem que jogar bem. Viktor cativa não só pelo seu sorriso franco, mas sobretudo por ter uma vontade prudente de vencer.
Um cálice de Porto
Harald Hovland, seu pai, engenheiro de profissão, era e ainda é um jogador dotado. Com handicap de um dígito, costuma vir a Portugal há muitos anos, desde que regressou à Noruega, sendo presença regular no TAP Open, torneio internacional amador que se disputa anualmente no Algarve em novembro, jogado em strokeplay. Em 2008, nos tempos que trabalhava em St Louis, a mais de 5000 km de casa, para passar o tempo livre comprou um set de tacos e era então frequentador regular de um driving range perto do estaleiro onde trabalhava. No regresso a casa resolveu comprar um set de tacos para o seu júnior. Mal sabia ele que este seria o primeiro passo para o estrelato mundial do filho. No ano passado, em 2021, depois de participar no TAP Open, Harald levava na bagagem de regresso a casa uma garrafa de Porto reserva: “Se o Viktor tiver tempo vou beber um cálice com ele”.
José Carlos Rodrigues